Como a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa surgem?

As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) representadas pela doença de Crohn (DC) e retocolite ulcerativa (RCU) são consideradas desordens de caráter crônico e progressivo que afetam todo o trato gastrointestinal.

A fisiopatologia das DII é complexa e vem sendo extensivamente estudada nas duas últimas décadas, o que a torna desafiadora.

A evolução dos conhecimentos reforça que é a interação mútua entre os quatro pilares principais da patogênese das DII, os fatores ambientais, os fatores imunológicos, os genes e a microbiota, que induzem a doença.

Outro componente da patogênese que evoluiu muito foi a genética. É cada vez maior o número de genes associados com a DC, com a RCU, ou ambas. Mais de 260 loci de susceptibilidade e variantes de penetrância baixa ou intermediária já foram identificados por estudos de associação do genoma (GWAS).

De todos os fatores relacionados com as DII, o que mais vem atraindo a atenção da comunidade científica nos últimos anos são as alterações na composição da microbiota nesses pacientes. De fato, a microbiota intestinal está envolvida não somente na patogênese das DII, mas na formação do sistema imunológico e as primeiras semanas de vida representam um período crucial para a sua definição.

O tipo de parto, aleitamento natural e o tipo de dieta influenciam na determinação da microbiota nos primeiros anos de vida.  Entre o segundo e terceiro ano de vida há estabilização da microbiota, comparável à do adulto, dominado pelos filos Bacteroidetes e Firmicutes, em termos de composição e diversidade. As DII são mais prevalentes em indivíduos nascidos de parto cirúrgico que não foram expostos à microbiota vaginal.

Alguns fatores de risco têm sido relacionados à origem das doenças inflamatórias intestinais como potenciais mediadores da imunidade sistêmica e intestinal. O tabagismo é um dos primeiros e mais estudados fatores ambientais.

O uso de algumas medicações como antibióticos durante a infância, antiinflamatórios não esteroidais e anticoncepcionais proporcionam um desequilíbrio da microbiota e redução da sua diversidade.

A dieta é um outro fator de risco ambiental. A influência dietética em uma idade precoce pode modificar o risco de doença durante a fase adulta de forma duradoura. A ocidentalização da dieta com consumo exagerado de alimentos processados, gordura saturada e açúcar refinado está associada ao desequilíbrio da microbiota, o que eventualmente aumenta o estado pró-inflamatório basal. De forma contrária, a maior ingestão de fibra alimentar está relacionada a um risco reduzido de DC, por exemplo.

A maior prevalência de DII nos países ocidentais em comparação aos orientais sugere que fatores relacionados à geografia e urbanização modificam o risco da doença. A perda da imunotolerância aos agentes deflagadores antigênicos bacterianos foi demonstrada através da teoria da higiene.

Outros fatores de risco modificáveis relacionados às DII incluem aumento da poluição ambiental, níveis reduzidos de Vitamina D e sedentarismo.